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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Um bom texto para reflexão...


OPINIÃO DE UM POLICIAL DOS EUA SOBRE O PORQUÊ DE NY TER TIDO A TAXA DE CRIMINALIDADE MAIS BAIXA DOS ÚLTIMOS 5O ANOS
TEXTO UM POUCO LONGO MAIS VALE A LEITURA ( O CONHECIMENTO LIBERTA)


Eu sou policial nos EUA e tenho uma visão diferenciada. Na verdade uma visão mais pratica das soluções que levaram a queda dos índices de criminalidade, tanto em NY como em LA (de onde eu sou). Cabe ressaltar que a policia daqui já foi mal remunerada, mal treinada, mal vista, rude, violenta e totalmente alienada da população. Isso começou a mudar na década de 70 pra 80, e hoje estamos colhendo os frutos do que foi mudado naquela época. Em outras palavras, não se resolve um problema sistêmico em 6 meses.

Segue os fatores:

a) Seleção: Tudo começa na seleção do policial certo, com o perfil certo. Se errar ai, o resto vai por água abaixo. Um processo seletivo rigoroso no que deve ser rigoroso, mas flexível aonde precisa ser. No Brasil o processo seletivo e' altamente competitivo na prova escrita, mas altamente falho e superficial na investigação social e nos testes cognitivos e de perfil/personalidade. Aqui ja e' o contrario: como sabemos que prova escrita não prediz o sucesso de um candidato, a ênfase e' na identificação do perfil e atributos necessários pro trabalho. E' injusto? talvez. Mas parte-se do principio que nem todo mundo nasceu pra ser policial.

b) Treinamento: Gasta-se em media 150 mil dólares pra treinar um policial na Califórnia (do momento da prova ate a formatura). Um investimento altíssimo se comparado com outras profissões. Então o critério de seleção tem que ser rígido pra justificar tamanho gasto. Em 5 anos de carreira, já se investiu quase 500.000 dólares no policial. Isso não é só tática de tiro, mas disciplinas que só vi no currículo de oficiais da PM. Imagina se um praça recebesse tal treinamento extensivo? O que me leva ao próximo ponto...

c) Carreira Única/Ciclo Completo: Ter uma polícia que possibilita o avanço hierárquico é essencial pra uma polícia evolutiva e adaptiva. Não só isso, como a meritocracia ser um conceito moderno adotado em quase todos os países, menos no Brasil. O policial aqui já forma com a idéia de que vai subir na hierarquia (por isso um tão alto investimento desde o começo), e o processo é de prova interna pra promover. Não é direito de um policial promover, mas sim uma possibilidade. Nem todo mundo avança, mas quem quiser e trabalhar pra isso pode chegar ate a Chefe de Policia (Vide William Bratton, que começou como soldado). Então se uma turma de soldados/aspirantes se forma, nem todo mundo vai chegar a sargento/coronel. Somente alguns, e só os mais qualificados. É um modelo de pirâmide que tem base nas estruturas da iniciativa privada (E funciona). Qual o incentivo pra alguém trabalhar com afinco se todos, independente de produtividade, forem promovidos? 

d) Múltiplas polícias: Temos atualmente 19.000 departamentos policiais nos EUA. Tem departamento com 1 policial, e tem gigantes como a NYPD com 40 mil. Tem polícia especializada (como as escolares, de porto, aeroporto) e tem as de grande abrangência como a LAPD. Cada uma com poderes de polícia idênticos, mas com missões diferentes. Então não existe hierarquia policial, uma mandando na outra ou se achando superior. Isso aumenta o nível de colaboração entre departamentos, o que gera resultados visíveis. Por isso já não vejo vantagens em unificação das policias.

e) Legislação: O regime policial é civil, e não militar. A maioria esmagadora dos departamentos tem uma estrutura rígida para-militar, com hierarquia e costumes militares, mas é regida por um sistema de leis cíveis. Então o policial pode E DEVE estar filiado a um sindicato. Não só pra proteger o policial contra abusos, mas pra uma função muito mais essencial: buscar junto ao legislativo as leis necessárias pro trabalho policial. Todos sabem que é furada depender do governo. Se deixar, o governo aqui também sucateia e abandona a polícia, só não faz porque a população requer que a Seg. Pub seja prioridade. Se o povo nem o governo corre atrás de legislação pro seu próprio bem, vcs acham que os governantes vão correr atrás das NOSSAS prioridades? Claro que não. E quem acredita nisso deve acreditar no Papai Noel também.

f) Política: Como citado no item anterior, quase não se vê policiais se candidatando porque não adianta eleger UM SÓ policial (uma andorinha não faz verão). Ao invés disso, os sindicatos policiais preferem apoiar um grande grupo de candidatos e tentar ajudar eleger pelo menos metade dos assentos pra garantir que leis a nosso favor passem, e contra possam cair. Foi assim que conseguimos passar leis qualificando agressões contra policiais, entre tantas outras leis que fazem o nosso trabalho mais fácil. Cabe ressaltar que uma coisa que ajuda imensamente é cada estado ter seu código penal estadual.

g) Comunidade: A transparência é essencial pra gerar confiança por parte da população. Eu poderia escrever um livro só nesse assunto, que engloba dentro outros assuntos o policiamento comunitário. Mas no final das contas é aquele balanço:

-É ser respeitado pela população por ser um profissional sério, altamente treinado e capacitado; 

-Ser valorizado por fazer um trabalho que nem todo mundo consegue fazer, ser o que nem todo mundo consegue ser (porque vocês acham que o BOPE tem tanto respeito e admiração?); 

-Ser um exemplo na comunidade através da conduta irrepreensível;

-E acima de tudo, que respeite a todos, até os bandidos. Os policiais conseguem ter um alto nível de tolerância contra o marginal porque sabe que bater na cara do malandro pode até ser ruim, mas pior é o que há de vir que é o julgamento por leis severas (vide item D e F).

Transparência se resume a coisas simples: E um cidadão normal poder passar um turno inteiro acompanhando o trabalho policial, ir em ocorrência, etc. Afinal de contas, não é o imposto do cidadão que pagou a viatura e paga a gasolina?
E um cidadão normal poder conversar respeitosamente com o chefe de policia sem achar que esta na presença de um deus.

h) Salário: Acreditem ou não, mas salário não resolve problemas de Seg. Publica. Salário não é causa de melhora, é conseqüência dos resultados positivos. Como eu havia dito no começo, a polícia aqui já foi mal paga. Em alguns cantos do país, continua sendo mal paga. Mas nos lugares onde é bem paga (em sua grande maioria) foi por causa do resultado. A partir do momento em que os índices de criminalidade caem, em que a população SABE E CRÊ que a policia não é braço armado do governo mas sim uma força pra proteger a população, aí sim o aumento de salário ocorre naturalmente. A policia daqui é prova disso, e eu presenciei uma cidadã que não tem nada a ver com a polícia, indo na câmara de administradores e defender o aumento salarial pros policiais porque, nas palavras dela, "a polícia merece pelo ótimo trabalho que faz diariamente". Ninguém pediu pra ela ir, ela foi sozinha e foi apoiada.

Enfim, pra concluir (pra você que não dormiu lendo um texto tão denso), discutir fatores socio-economicos e históricos pode até ser algo legal, altamente acadêmico. Alguns dos itens nem sei se poderia ser aplicado pra realidade brasileira. Mas já que o assunto é relacionado aos resultados nos EUA, fica aí alguns pensamentos pessoais.

Fonte: Facebook - Comentário de autor não identificado no ESTADÃO

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