Parque para adultos
Para Odebrecht, São Lourenço da Mata pode ser melhor que Los Angeles
Gigante do esporte já mira o pós-Copa
Maior proprietário de times e eventos do mundo, AEG crê que repetirá em Recife operação modelo dos EUA
Odebrecht, com quatro estádios em 2014, traz parceiro especializado ao Brasil para investir em entretenimento
Odebrecht, com quatro estádios em 2014, traz parceiro especializado ao Brasil para investir em entretenimento
Por JOSÉ HENRIQUE MARIANTE, na Folha de São Paulo
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
O ingresso diz que o jogo começa às 19h30. E o relógio, que já são 19h25. Cinco minutos que precisam ser suficientes para deixar o quarto do hotel no 20º andar, atravessar o lobby, a praça em frente, uma rua e outra praça.
Parece mentira, mas, às 19h30, o ingresso é dado ao segurança na entrada VIP do ginásio. Uma escada rolante e um corredor depois, o bilhete também abre a porta do camarote. Em quadra, os Lakers, maior time da NBA, ainda estão no aquecimento.
Ginásio é descrição imprópria para o Staples Center, principal atração de um complexo que ainda reúne hotéis, escritórios, teatros, clubes, bares e restaurantes.
Investimento de US$ 2,5 bilhões em pouco mais de dez anos numa área degradada do centro de Los Angeles.
Hoje em dia, o LA Live, como é chamado o complexo, recebe um fluxo de 50 mil pessoas atrás de diversão numa noite razoável. Esporte é o carro-chefe, mas não o único.
E o dono disso tudo acha que é possível fazer algo semelhante em São Lourenço da Mata, subúrbio pobre de Recife que abrigará uma das 12 sedes da Copa de 2014.
Seu nome é AEG ou Anschutz Entertainment Group, maior proprietário de equipes e eventos esportivos do mundo, também das arenas mais lucrativas do planeta e o segundo no ranking de negócios de shows e concertos.
Uma daquelas empresas que, previu-se, desembarcaria no Brasil por conta da Copa e da Olimpíada. No caso, a convite da Odebrecht, construtora do estádio pernambucano e de outras três arenas do Mundial -Fonte Nova, Maracanã e do corintiano e controverso Itaquerão.
NEGÓCIO NOVO
"Depois do carro e da casa própria, o próximo desejo do brasileiro é o entretenimento", sintetiza Fernando Jens, da OPI (Odebrecht Participações e Investimentos), braço da construtora baiana que prospecta novos negócios.
Entretenimento de fato é um novo negócio no Brasil.
Se sobram atrações internacionais no país neste momento, faltam espaços, tecnologia e expertise. "Temos amplas condições de repetir em Recife o que fizemos em Los Angeles", diz Bob Newman, da AEG Facilities, a parte que cuida de estádios e arenas -são, no total, 50 divisões, ainda que a empresa se considere "familiar".
O executivo, apesar de soar retórico, refere-se ao modelo de empreendimento planejado em São Lourenço da Mata. Em uma área pública de 250 hectares, o estádio será o catalisador da Cidade da Copa. No papel, são 9.000 unidades residenciais, escritórios e equipamentos -hospital, shopping, escola etc.
A receita é simples: o estádio atrai gente e gente atrai negócios, que atraem mais gente, que justificam o estádio. "O bom desse modelo é que não temos amarras. Se depois do estádio percebermos que, no lugar de construir um shopping, é melhor erguer uma universidade, é só alterar a rota", afirma Frederico Campos, da OPI.
A receita foi seguida em Los Angeles. O poder público trocou terrenos e incentivos com a AEG, que se comprometeu a criar um complexo que revitalizasse a área.
O primeiro passo foi o Staples Center, que recebe 250 eventos e 4 milhões de visitantes por ano desde o final dos anos 1990. O último, em 2010, a construção de um complexo hoteleiro encabeçado pela grife Ritz-Carlton, negócio de US$ 1 bilhão em ambiente de crise nos EUA.
"Claro, há muitas diferenças entre Los Angeles e Recife. Mas a maior delas é que Pernambuco cresce a dois dígitos por ano", diz Newman.
O jornalista JOSÉ HENRIQUE MARIANTE viajou a convite da AEG/Odebrecht
Convencer times e explicar PPP viram desafios para o consórcio
DO ENVIADO A LOS ANGELES
Principal atrativo da Cidade da Copa, a Arena Pernambuco vai consumir mais de R$ 530 milhões. Mas ainda não sabe quem jogará nela.
Como muitas capitais nordestinas, Recife é cidade de futebol com casa cheia. Só que são três times, Sport, Náutico e Santa Cruz, com estádios e orgulhos próprios.
A primeira oferta foi recusada por todos: mandar 20 jogos por temporada na nova arena. Os clubes aguardam uma nova oferta até julho.
"Temos certeza de que chegaremos a um acordo quando explicarmos como eles poderão lucrar mais jogando na Arena que em seus próprios estádios", afirma Chuck Steedman, da AEG.
Do lado da Odebrecht, a tarefa de convencimento não é menos complexa: mostrar para a opinião pública e principalmente para as autoridades fiscalizadoras que PPP é bom negócio para o Estado.
"O que falta neste país é HP12C", brinca Fernando Jens, citando a popular calculadora financeira. Para o executivo da Odebrecht, conceitos como valor presente (quanto um valor no futuro significa hoje, levando em conta inflação e juros) são ignorados. "Na Bahia, o Estado pagará R$ 107,3 milhões/ ano por 15 anos pelo estádio. Só que dizer que a Fonte Nova custará R$ 1,6 bi é errado. Pelo valor presente, é coisa de R$ 650 milhões." (JHM)
Postado por Jamildo Melo /http://sargentoricardo.blogspot.com
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