Estudiosa do assunto, professora da Unifesp traça perfil dos mascarados que aderiram à violência contra símbolos do poder por não se sentirem escutados pelos governos
A
estratégia black bloc ficou conhecida nos protestos de junho, quando
ganhou força entre jovens manifestantes. Mas, cinco meses depois, mesmo
com a repressão e criminalização dos mascarados, a tática de cobrir o
rosto e se vestir de preto para destruir símbolos do capitalismo e do
Estado não dá sinais de fraqueza nas poucas manifestações que ainda
continuam pelo País. Estudiosa do assunto, a professora de Relações
Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Esther
Solano Gallego foi em inúmeros protestos, entrevistou vários dos adeptos
dessa estratégia e explica: “o principal alvo deles é a Copa do Mundo
de 2014”.
A
professora conta que a realização do evento no Brasil é um tema sempre
presente no “discurso articulado” dos black blocs. “O momento é bem
complicado. É difícil prever o que vai acontecer daqui a dois meses. Mas
o que fica claro é que o principal alvo é a Copa do Mundo. Vai ser um
momento que o Brasil vai estar na cena internacional. Eles vão continuar
ativos e as ações vão ser na Copa do Mundo”.
Entenda o grupo: Black Blocs chegam à segunda geração no Brasil
A
pesquisadora foi convidada, inclusive, para debater nesta quarta-feira
(23) sobre o tema com parlamentares na Câmara dos Deputados. Para ela,
no entanto, o governo “não presta atenção” nestes jovens que saem às
ruas para atacar símbolos do poder, como agências bancárias. “Eles não
saem pelo quebra-quebra. Eles não se sentem escutados pelo Estado”. Por
isso, segundo Esther, a mensagem que os black blocs querem passar com a
violência “é a mesma dos protestos de junho”.
“Você
pode concordar ou não com a violência deles, cada um tem a sua opinião,
mas é perfeitamente claro que todos compartilham das reinvindicações
deles. A gente devia prestar um pouco mais de atenção na mensagem que
eles querem passar, que é a mesma de junho. Eles querem melhorar o
País”, defende.
Perfil dos integrantes
De
acordo com a estudiosa, os jovens que aderiram à estratégia de confronto
nas manifestações são, em geral, de classe média ou classe média baixa.
Mas, apesar de não serem provenientes da periferia das grandes cidades,
segundo a professora, eles têm “contato com a precariedade do Estado”. A
maioria está trabalhando, tem entre 16 e 24 anos e lida com problemas
de transporte ou saúde pública no dia a dia. “Por outro lado, eles têm
um discurso bastante articulado”.
Mais:
“Já faz
um bom tempo que eu falo com eles. Tem pessoas que talvez coloque a
máscara pela emoção (do confronto) e não sabe de nada mesmo. Mas esse
grupo é minoria. A maioria é de pessoas que tem presença cotidiana na
rua, tem discurso bastante articulado. São formados em universidades
particulares e conseguem articular suas ideias. Eles falam que usam de
violência simbólica, como mensagem para chamar atenção do governo”,
afirma.
Sobre a
desaprovação, por partes dos cidadãos, quanto aos métodos violentos, a
professora da Unifesp explica que, na visão dos black blocs, a culpa é
das instituições públicas e da imprensa que alienam a população. “Eles
conversam sobre isso e sentem que estão criminalizados pelo Estado.
Dizem que não conseguem passar a mensagem deles para a população e por
causa dos meios de comunicação. Eles consideram que o Estado e a mídia
os tratam como vândalos, mas não se consideram isso. Consideram que
estão passando uma mensagem”.
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