A
falta de uma responsabilização do Estado por esses atos de violência e a
respectiva reparação das famílias é uma das principais críticas dos
parentes das vítimas
Publicação: 02/10/2013 17:27 Atualização:
São Paulo - Mais
de 600 mortos em maio de 2006 em uma série de ataques na Baixada
Santista, 111 presos assassinados em 1992 durante o Massacre do
Carandiru, o desaparecimento do pedreiro carioca Amarildo de Souza em 14
de julho deste ano. Para entidades de defesa dos direitos humanos e
movimentos sociais, esses números têm em comum a marca da violência
policial. Parentes de vítimas desses e de outros casos fizeram nesta
quarta-feira (2/10) na capital paulista um ato para pedir a
desmilitarização da polícia.
"Isso passa por um controle social da atividade dos agentes do estado,
pelo fortalecimento das ouvidorias, por uma mudança na formação dos
agentes", propõe Danilo Dara, integrante do movimento Mães de Maio. Ele
rejeita a ideia de um treinamento militar "para combater o inimigo
interno, que é o elemento suspeito de cor padrão [jovem negro]",
explica. Dara disse que o número de homicídios no Brasil supera os
índices de muitos países em guerra. "São cerca de 49 mil mortes, em
média, nos últimos anos e boa parte cometida por agentes do Estado",
disse, citando dados da Organização das Nações Unidas (ONU).
A atividade, que ocorreu na sede do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais de São Paulo, faz parte da Semana contra a Democracia dos
Massacres. No próximo sábado (5/10), as organizações promovem um ato no
Parque da Juventude, onde funcionava o prédio Casa de Detenção do
Carandiru, para marcar 21 anos do episódio. Além do Mães de Maio,
participam da mobilização os movimentos Periferia Ativa, Comitê contra o
Genocídio da População Preta, Pobre e Periférica, Comissão Estadual de
Mortos e Desaparecidos, Grupo Tortura Nunca Mais, entre outros.
A falta de uma responsabilização do Estado por esses atos de violência e
a respectiva reparação das famílias é uma das principais críticas dos
parentes das vítimas. "Ao longo de décadas vemos o massacre da nossa
juventude, dos nossos povos tradicionais e para se ter justiça são
necessárias décadas de lutas. Foram 21 anos no caso do Carandiru e já
vamos para a primeira década dos crimes de maio", criticou Débora Maria
da Silva, representantes do Mães de Maio. Ela criticou a ausência de
resposta por parte dos governos estadual e federal sobre o pedido de
federalização das investigações desses crimes. "Enquanto eles não forem
esclarecidos, isso vai continuar".
As mortes conhecidas como Crimes de Maio ocorreram no mesmo momento em
que estouraram os ataques de uma facção criminosa no estado de São Paulo
contra policiais. De acordo com o movimento, os ataques resultaram em
reação de grupos de extermínio com a presença de agentes do Estado. Uma
das vítimas foi Ana Paula dos Santos, 20 anos, que estava grávida de
nove meses. "Minha filha saiu com o marido para comprar leite e nunca
mais voltaram. Eles foram mortos por um carro preto", contou Vera Lúcia
dos Santos, 58 anos, mãe da jovem. Segundo ela, o caso foi arquivado
seis meses após o crime com a justificativa de ausência de provas.
O caso recente do fotojornalista Sérgio Silva, que perdeu a visão do
olho esquerdo ao ser atingido por uma bala de borracha durante as
manifestações em junho deste ano em São Paulo, também foi lembrado
durante o ato. "A violência que foi cometida pela Polícia Militar
durante as manifestações são apenas um reflexo do que se comete
cotidianamente nas periferias. Já se passaram três meses após o 13 de
junho e até o momento o Estado não se pronunciou sobre essa fatídica
noite", criticou o fotógrafo.
Segundo levantamento do Movimento Passe Livre (MPL), mais de 300 pessoas
foram presas durante as manifestações de junho deste ano. "Sem imputar
qualquer crime, a Polícia Militar deteve e encaminhou para delegacias
pessoas por estarem portando tinta, vinagre, cartazes e mesmo
simplesmente por ter cara de manifestante. Vemos aí a mesma lógica que
leva a polícia a prender jovens negros porque eles têm cara de
suspeitos", disse Mariana Toledo, integrante do movimento em São Paulo.
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