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quarta-feira, 19 de junho de 2013

opinião

Quem sabe faz a hora



Roberto Numeriano

Um cidadão pode até não se filiar ou militar em um partido, mas sempre vai ter um lado político-ideológico. É preciso lembrar essa máxima quando temos visto, sob apoio oportunista dos conservadores (sobretudo, da imprensa), uma perigosa celebração de atos de repúdio à presença de militantes partidários com suas bandeiras nos atos de protesto. E esses militantes, em geral jovens, empunham bandeiras de partidos de esquerda, justamente as agremiações que estimulam a reação a essa decadência das instituições e ao predomínio dos políticos arrogantes e corruptos.

Trata-se, o repúdio, de um ato compreensivo, mas ingênuo e contraditório em si mesmo. Os jovens e adultos que afluem em massa às ruas lutam por direitos reais que em nossa democracia formal devem ser providos pelo Estado, conforme a Constituição de 1988. Essa carta, dita “cidadã” pelo grande Ulysses Guimarães, instituiu as bases do Estado democrático de direito, o qual garante a liberdade de expressão, de opinião e de comunicação.

Ora, é paradoxal que, aparentemente, a maioria dessa massa apóie o repúdio aos partidos nos eventos, pois um dos motes desse gigantesco movimento de massas é justamente a luta por direitos reais (e não apenas formais ou nominais). Entre esses direitos consta a liberdade de manifestação e uma comunicação fundada no interesse público. É contraditório criticar a polícia que bloqueia e/ou reprime os atos, e ao mesmo tempo reprimir outros jovens com suas bandeiras de partido. Quem repudia deveria se perguntar porque nenhuma das bandeiras desfraldadas nos atos é do PSDB, DEM ou PMDB, por exemplo. Deveria, também, entender que os atos são suprapartidários, e não apartidários e (como se fosse possível), apolíticos.

Outro fato, de natureza político-ideológica, é, por assim dizer, a apropriação interpretativa desse gesto, feita de modo capcioso pela mídia conservadora e por certos cientistas políticos que são mais políticos do que cientistas. Talvez porque imaginem ganhar audiência e prestígio junto a certa classe média e classes assalariadas de baixa renda que nutrem preconceito generalizado contra a política e os políticos, esses dois grupos demonstram enorme prazer quando comentam a exibição desse repúdio aos partidos (na prática, à esquerda). Ocorre que em nenhum lugar do mundo uma sociedade pode simplesmente ignorar a realidade e a necessidade de partidos políticos. Parece-nos que a maioria desses jovens ignora o fato de que eles podem protestar nas ruas porque no passado recente muitos homens e mulheres de partido foram à luta, muitos dos quais morrendo e/ou sofrendo seqüelas de torturas e sevícias.

A crítica que generaliza os partidos, tratando a todos como um valhacouto de oportunistas, carreiristas e corruptos, na prática flerta com o autoritarismo. Se vivemos uma crise da representação política, não quer dizer que nesse quadro não haja bons exemplos de políticos dignos, capazes e republicanos. Esse maravilhoso e emocionante movimento de massa que observamos precisa desses homens de partido, pois todo movimento social necessariamente se institucionaliza ou de diluiu por não encontrar meios e ferramentas para fazer valer suas demandas. Quem faz esse movimento deve dialogar e interagir com os quadros de partidos que defendam as bandeiras sociais que não se esgotam por disputa de centavos. Cair na generalização é tudo o que quer o pensamento conservador, pois o mesmo deseja que esse movimento se esgote em si mesmo. 

Parabéns, jovens e adultos engajados ou que estão direta e indiretamente envolvidos nesse movimento por um Brasil justo, igualitário, sem esses embustes de Copas e tantas mistificações político-ideológicas. Somos dignos, somos cidadãos. Exigimos políticas públicas de saúde, transporte, educação e segurança que sejam as prioridades reais, tanto quanto foi e está sendo prioridade torrar dinheiro público em estádios suntuosos rodeados por um mundo de miséria e desespero.

Roberto Numeriano é cientista político, professor e militante do PSOL/PE.

Postado por Jamildo Melo /http://sargentoricardo.blogspot.com.br/

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