Noticias

quinta-feira, 20 de junho de 2013



 Saia um pouco da frente do computador e participe!!!

vida moderna
Não é apenas apertando a tecla de curtir que mudaremos o mundo

A mobilização na era digital

Por Luiz Vita e Carlos Alberto Silva

O Facebook não é um partido político, mas nesses dias em que São Paulo anoiteceu sitiada por conta dos protestos do movimento Passe Livre ganhou um protagonismo que nenhum partido tradicional sonhou conquistar apenas com o suor e o idealismo de seus militantes. Sem carros de som nem megafones, as palavras de ordem passam pelas telas de computadores e telefones celulares, e a mobilização é organizada de forma quase espontânea. As pessoas se materializam, brotam nas esquinas, desembarcam dos túneis do metrô e formam uma massa humana que, vista dos helicópteros, impressiona quem acompanha tudo pela televisão.

Querem provar que fazem parte de um movimento que dispensa lideranças e protagonistas, e aposta na força do coletivo. Mais do que uma palavra de ordem ou um slogan, acreditam em ideais. Defendem uma ideia, por mais difusa que seja, e não se preocupam com a ressaca do dia seguinte à derrota: e se nossa reivindicação não for atendida, o que faremos?

O aumento em 20 centavos nas tarifas do transporte coletivo não explica o porquê dessa mobilização. E nem é a causa real que tem levado as pessoas às ruas. Não há ali operários que utilizam o transporte – como eram operários os grevistas do ABC nos anos 1980 –, mas em nome deles falam jovens estudantes e outros rapazes e moças de classe média. Nunca cheiraram gás lacrimogêneo, mas já sabem que molhar o lenço com vinagre atenua os efeitos da substância. Carregar uma garrafa de vinagre na bolsa é sinal de que estão preparados para o pior e que são transgressores. O sentimento é bom.

O que é novo nas ruas brasileiras – como também era novo nas ruas europeias durante as manifestações contra a crise econômica iniciada em 2008 – é a arrogância juvenil de quem resolve tudo sozinho. Para protestar, abriram mão dos meios tradicionais e dos partidos políticos. Parecem ver nas agremiações partidárias um aliado desnecessário e com o qual não querem se identificar. Estão cansados de tantas notícias negativas envolvendo políticos, de tantos escândalos com malversação de dinheiro público. E, por fim, acreditam que chegou a hora de dar basta a isso tudo.

Hoje os jovens recorrem ao Facebook para manifestar seu desencanto com a política e respondem com essa catarse coletiva. A sociedade se surpreende com essa mobilização, mas ao mesmo tempo teme por sua segurança quando vê ônibus incendiados , lojas depredadas e explosões de bombas de gás lacrimogêneo no seu caminho.

Ainda é cedo para saber se tudo isso trará reflexos eleitorais, já que os partidos de extrema-esquerda que levam suas bandeiras tradicionalmente têm pouca expressão eleitoral. Mas já é hora de os políticos se preocuparem com sua imagem e com a legitimidade das instituições que representam. Não podem deixar que esse desencanto progrida a ponto de verem a fé no regime democrático ser abalada. Não há formas de manifestação nas redes sociais, por mais libertárias que sejam, que substituam as instituições, consolidadas com muita dificuldade nessas poucas décadas de redemocratização do país. Não é apenas apertando a tecla de curtir que mudaremos o mundo.

Luiz Vita e Carlos Alberto Silva são jornalistas


http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/http://sargentoricardo.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário