Estudante de direito da UFPE critica carnaval do PSB no Recife
POSTADO ÀS 12:09 EM 04 DE FEVEREIRO DE 2013
Por um carnaval de todas as cores e de todos os amores
Por Pedro Brandão
O cenário ainda é muito incerto para fazer críticas ou elogios à gestão cultural do PSB e, principalmente, para analisar o impacto dessas políticas no carnaval de nossa cidade. De toda forma, uma notícia recente assusta e, talvez, prenuncie o que vem por aí (não, não me refiro à indicação do nosso novo secretário municipal de turismo - preocupante, sem dúvidas).
O fato noticiado é que as cores do nosso carnaval serão as cores do Partido Socialista Brasileiro (PSB): amarelo e vermelho. Segundo algumas reportagens, esta é uma tentativa do PSB impor ao carnaval recifense a sua marca.
Sem dúvidas, caso realmente seja adotada pela nova administração do PSB, a medida fere dispositivos constitucionais e legais que impõem a impessoalidade e a moralidade na administração pública. Inclusive, não são poucos os casos que chegaram à justiça, denunciando a mistura entre ambiente público e espaços privados (partidos políticos).
O jardim, como lembra Nelson Saldanha, não pode se confundir com a praça. Partidos políticos tentando colonizar o Estado e a folia não é uma atitude democrática. Falando em democracia, há outros pontos em que precisamos melhorar. Sim, são verdades inconvenientes que ninguém quer discutir em tempos de festa. Mas é preciso.
Os problemas mais visíveis se referem ao alto gasto do poder público na manutenção de camarotes, como se fosse dever dos cofres públicos proporcionar uma folia gorda aos políticos e aos seus amigos; e à instalação de “front stage” gigante para a casta política e cultural de plantão nos palcos da cidade. A “frente do palco”, equivalente ao cordão de isolamento nas ruas, é inversamente proporcional ao aperto sentido por milhares de cidadãos comuns. São os espaços públicos servindo para interesses privados. Da mesma forma, tão vangloriado pelas colunas sociais da high society pernambucana, o camarote da Skol, que, como todo camarote, por si só, já engendra uma concepção excludente de cidade, foi além dos espaços privados invadindo a calçada que deveria ser de todos/as.
Por sua vez, essas são questões menores diante de outras duas especialmente problemáticas que gostaria de ressaltar.
Um dos maiores atentados aos Direitos Humanos em nosso carnaval são crianças trabalhando nas ruas da cidade, normalmente, catando latas. É a população invisibilizada no meio de nossa folia e diversão, são os “ausentes da história” que não são retratados nas fotos de carnaval, nas crônicas ou nas reportagens jornalísticas. No entanto, há alternativas possíveis e necessárias.
No carnaval do ano retrasado, testemunhei, na Praça do Carmo, em Olinda, uma ideia interessantíssima: a disponibilização de uma espécie de creche ao ar livre, com recreadores e uma série de divertimentos infantis, em que a criançada pudesse brincar enquanto os pais trabalhassem. Não sei se o espaço ainda existe em Olinda, ou se algum dia já existiu em Recife. Mas fica a ideia. O importante é que o poder público garanta essa alternativa para que crianças não tenham que acompanhar seus pais pelas ladeiras de Olinda ou nas ruas do Recife Antigo.
Por último, um caso triste que ocorreu no ano passado, mas que poderia acontecer em qualquer época do ano, em qualquer lugar de nosso Estado, foi o despreparo e a violência policial em lidar com o amor. Nesse caso, o amor era representado por dois jovens do mesmo sexo que estavam fazendo o que qualquer casal faria: se beijavam.
Em tempos de cordão de isolamento, invisíveis, simbólicos ou reais, como bom pernambucano, não poderia deixar de dizer que o nosso carnaval é o melhor e maior do mundo. Lutemos para que ele seja, ainda, mais democrático - de todas as cores e de todos os amores!
Pedro Brandão
Mestrando em Direito - Programa de Pós-graduação em Direito/UFPE
Membro do Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH)
Advogado - OAB/PE nº 31.352
Postado por Jamildo Melo / http://sargentoricardo.blogspot.com.br/
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