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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Peito bonito é bem público

O silicone virou assunto de saúde pública no Brasil. Após ficar
comprovado que há riscos de ruptura no material importado da França e
da Holanda, o governo decidiu liberar o uso do SUS para as cirurgias
de retirada de próteses mamárias que se romperam. As pacientes reclamam, 
alegando que a cirurgia deve ser preventiva também. O governo está sob
 pressão para liberar de vez a rede universal de saúde para toda cirurgia 
de troca de silicone.

O tema levanta algumas questões interessantes. Em primeiro lugar,
parece que a Anvisa está tão preocupada em controlar a vida dos cidadãos nos
mínimos detalhes que deixa passar casos mais graves como esse. Para se
meter na quantidade de sal do pão francês os funcionários da agência
arrumam tempo, mas não para detectar problemas no silicone importado.
Tudo bem. Isso acontece, ainda que possamos questionar para quê serve tanto
funcionário “cuidando” de nossa saúde…

Em segundo lugar, vemos claramente os riscos de abuso quando a saúde é
“universal” e “gratuita”. Nesta quinta participei de um evento do IEE
em Porto Alegre sobre o “documentário” *Sicko*, do mega-embusteiro
Michael Moore. A despeito dos dados manipulados, das distorções deliberadas,
das mentiras descaradas e do patético sensacionalismo, o filme serve para
nos mostrar como é perigoso monopolizar os fins nobres em um debate
delicado como esse.

Michael Moore tenta passar a idéia de que o slogan marxista (“de cada
um de acordo com sua capacidade, para cada um de acordo com sua
necessidade”) precisa ser incutido na cabeça dos americanos egoístas
e insensíveis. 
Trocar o “eu” pelo “nós”, eis o que vai salvar a saúde dos americanos!
O que Moore não mostra é como tais incentivos perversos realmente
afetaram a qualidade da saúde nos países que adotaram este caminho.

Mesmo no Canadá há inúmeros problemas, como filas de espera,
equipamentos obsoletos, corrupção e burocracia. Nem vou falar de Cuba,
cujo modelo de saúde é defendido por Moore, porque é absurdo demais
 alguém em pleno século21 cair no conto do vigário de que a saúde pública
na Ilha-presídio funciona. Quando a “terrível” lógica do lucro desaparece,
 surge em seu lugar a lógica dos “favores”. Os poderosos funcionários públicos,
 que podem decidir o destino de um rim, são tentados pela corrupção o tempo
 todo. Muitos sucumbem.

Voltando ao problema do silicone, o mais correto seria cada paciente
buscar ressarcimento perante seus médicos ou planos de saúde, e estes,
eventualmente, devem processar seus fornecedores estrangeiros. *Caveat
emptor!* Mas a mentalidade coletivista está tão disseminada que muitos
passaram a crer que é um dever do governo (leia-se de todos) bancar
qualquer risco alheio, inclusive em cirurgias meramente estéticas.
Pensando bem, até que faz algum sentido. Afinal, peito bonito é mesmo um bem
público.

Fonte: Instituto Liberal

http://www.imil.org.br/artigos/peito-bonito-bem-pblico/?utm_source=fe...

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