Por Daniel Coelho
O Recife sempre teve uma história libertária e rebelde, características que fazem a cidade ter estado na vanguarda da política brasileira desde seu inicio. Da revolução praieira à expulsão dos holandeses, de Frei Caneca a Dom Hélder, nossa capital sempre demonstrou a coragem de dizer não às oligarquias, de lutar e de fazer a mudança acontecer.
Sem medo, o Recife encarou as mudanças democráticas que aumentaram a participação popular nas decisões da cidade, trazidas nos anos 60 pelo prefeito Miguel Arraes. Décadas depois, num momento onde a cidade vivia uma crise de autoestima, parecida com a que vemos nos dias de hoje, o prefeito Jarbas fez uma verdadeira revolução comportamental na cidade, elevando o orgulho de ser recifense. Era o Recife Alto Astral.
Prefeito mais bem avaliado do Brasil, Jarbas governou a cidade duas vezes e elegeu seu sucessor, Roberto Magalhães, homem sério, competente e de conduta ética incontestável.
Mas, como conta sua história, o Recife não se contentou. Mesmo avaliando bem a gestão do Dr. Roberto, o povo queria mudança. Apostando na onda vermelha que faria Lula chegar ao poder, os recifenses fizeram valer sua vontade de ousar e deram ao seu partido o governo do Recife. Naquele momento, há doze anos, não há como negar que a mudança oxigenou nossa política, trouxe novos quadros e afastou outros. A renovação, que faz parte da própria democracia, aconteceu. Era a vontade popular.
Agora, após mais de uma década, o cenário é outro. O que um dia foi mudança, quando colocado à frente do espelho, não tem mais a mesma imagem. O que já disseram ser um projeto político, hoje não passa de um projeto de poder.
Faz quatro anos que todos viram uma sucessão no Recife construída num processo personalista, que falava em nomes e não em ideias. Que buscava manter o controle do que é publico como se fosse privado. O resultado esta aí. Traição.
Hoje, após um traição não explicada, mais uma vez assistimos passar na nossa frente a preparação de um processo eleitoral recheado de conjunturas personalistas, de nomes sendo colocados e tirados do debate, sem qualquer critério que indique o interesse na melhor proposta para nosso povo.
O PT do Recife não debate mais um projeto de cidade, só fala em como manter o poder, e pior, para quem esse poder fica. Depois de 12 anos, criou-se uma nova oligarquia recifense que toma e usa o poder público como objeto particular.
O que vemos hoje na Prefeitura é um absurdo de cerca de quatro mil cargos comissionados criados para apadrinhar companheiros. O quadro técnico necessário para gerir os problemas complexos de toda grande cidade, não tem espaço, é colocado em segundo plano. Transformaram o Recife num grande sindicato de companheiros que não se entendem, mas também não largam o osso. Uma pena.
O trânsito caótico, as péssimas escolas, o crescimento desordenado, a falta de carinho e cuidado com a cidade não surpreende. Toda a capacidade de planejamento foi usada para o embate político. Esqueceram de planejar o Recife do futuro enquanto arquitetavam um projeto de poder.
Basta! O Recife de Frei Caneca, de Dom Hélder, de Arraes, de Jarbas, de dona Maria e de seu José não aguenta mais. Ninguém mais aceita ser massa de manobra dessa oligarquia que já se vai. Vai porque nosso povo não mudou. Na mais vanguardista das capitais brasileiras já se escuta nas ruas e esquinas o vento soprando trazendo o novo e a esperança de um basta que simboliza mais uma revolução. Queiram ou não, a cidade pertence ao seu povo.
Feliz 2012, Recife.
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