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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Governo não vai reprimir protestos de PMs no RS

Tarso Genro nega crise na Brigada Militar e diz que existe interesse em atingir o PT

A queima de pneus em rodovias gaúchas como forma de protesto de policiais militares que reivindicam maiores salários levou o Palácio Piratini a se manifestar nesse domingo. Em entrevista ao Correio do Povo, o governador Tarso Genro afirmou que manterá a suspensão das negociações, mas assegurou que em hipótese alguma ordenará o início de ações violentas de repressão. Ele criticou de forma veemente “setores da mídia” que estariam tentando levar o episódio para o campo político, com a imputação de responsabilidades a partidos como o PT de Tarso. Ele condena as afirmações de que petistas estariam envolvidos com os protestos criminosos, caracterizando o chamado fogo amigo. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

Correio do Povo – O senhor pretende tomar alguma medida enérgica para coibir os atos atribuídos a policiais militares gaúchos?
Tarso Genro - O que estamos vendo é que uma parte da mídia reproduz informações marcadamente de interesse político. Está se tentando, como eu tinha previsto em reuniões internas do governo, colocar em primeiro plano essa questão como se fosse algo do nosso partido, o Partido dos Trabalhadores. Eu disse que estava sendo preparado algo que acabaria culpando o PT. Nós sabíamos, já tínhamos levantado os nomes das pessoas envolvidas, e agora acabou vazando. Isso é normal. Mas colocam indicando que é fogo amigo, inclusive envolvendo de maneira malévola o nome do governador Olívio Dutra.

CP - E quais seriam os objetivos?
Tarso – Isso é o mesmo esquema de montagem política que elegeu o governador (Germano) Rigotto. Depois, não satisfeitos com o Rigotto, porque ele não cumpriu tarefas que pretendiam dar a ele, e daí elegeram Yeda (Crusius). Esse bloco de pensamento político tem muita força dentro da mídia e é esse mesmo bloco que passa informação para a mídia. Só que em vez de informação, se tenta incriminar o PT ao dizer que é fogo amigo. Isso de partidos não tem nenhuma fundamentação. Esses delitos são cometidos por indivíduos. A tentativa de incriminar partido é reproduzir preconceito contra partido, especialmente contra o PT, como se os partidos estivessem fazendo conspiração. Trata-se de pessoas que estão cometendo ilegalidades.

CP - Como o governo do Estado irá conduzir essa situação de conflito?
Tarso - Não vamos tomar nenhuma atitude arbitrária, não vamos desqualificar o movimento e não vamos colar esse tipo de coisa na Brigada Militar ou nas suas representações. Nós suspendemos as negociações com a Abamf não porque ela está fazendo isso, mas porque ela manifestou apoio a essas manifestações. Isso não nos impede de retomar as negociações mais tarde. Não estamos culpando as entidades, não achamos que haja crise na BM. São apenas pessoas que estão tomando atitudes radicais e cometendo delitos comuns. E assim serão tratados. O nosso serviço de inteligência está tomando medidas para que essas pessoas sejam responsabilizadas judicialmente. Não vamos misturar isso com as negociações.

CP – Na sexta-feira o senhor viajou a Brasília com a presidente Dilma Rousseff. O que trataram?
Tarso – Despachamos sobre temas de interesse do Estado. A presidenta me pediu uma análise para saber se efetivamente mudou a relação federativa entre o Estado e a União. Ela quer cumprir de maneira plena esse compromisso. Eu mostrei cinco pontos que comprovam que as coisas mudaram. E agradeci. A União colocou R$ 1 bilhão para regular o preço do arroz no RS. Houve remessa de R$ 103 milhões para financiar a pesquisa. Temos a nova rede de institutos federais tecnológicos, cuja localização foi determinada por ela. Outro ponto foi a presença na Expointer e o compromisso que ela assumiu de trabalhar com o governo estadual pela reestruturação material da Expointer nos próximos anos. E também a renegociação da dívida dos estados com a União através dos swaps.

Porto Alegre registra segundo protesto de PMs

O segundo protesto de policiais militares (PMs) em Porto Alegre foi registrado na madrugada desta segunda-feira. Uma barreira com cinco pneus queimados foi montada na estrada João Antonio da Silveira, bairro Restinga, zona Sul da Capital. Uma faixa com os dizerers “Socorro povo gaúcho. Não sou corrupto. Só quero salário digno”, foi deixada no local.

Avenida de Alvorada é bloqueada com barreira de pneus

Protesto de PMs também foi registrado em Porto Alegre

A avenida Getúlio Vargas, na entrada de Alvorada, na Região Metropolitana, foi interrompida por uma barreira de cerca de 30 pneus com fogo, por volta das 2h desta segunda-feira. Segundo a Brigada Militar, os bombeiros foram ao local e liberaram a pista após 20 minutos. Apesar de ser uma das vias mais importantes da cidade, não houve problemas no trânsito por causa do horário em que ocorreu o protesto. Uma faixa com a frase “PM$ 386 é uma vergonha. Reajuste já. Pior salário do País” foi deixada na área, assim como um boneco fardado, imitando um policial.
Na Capital, cinco pneus queimados interromperam a estrada João Antonio da Silveira, bairro Restinga, zona Sul, durante a madrugada. Uma faixa com os dizeres “Socorro povo gaúcho. Não sou corrupto. Só quero salário digno” estava no local. As chamas foram combatidas pelos bombeiros e, assim como em Alvorada, a barreira não chegou a comprometer o trânsito.
Os protestos fazem parte de uma série de ações atribuídas aos PMs para reivindicar melhores salários para a categoria. O índice oferecido pelo governo foi de 11,5%, sendo que mais da metade do percentual já foi concedida em março: 6,32%. Na semana passada, a Casa Civil e outras secretarias do Estado fizeram reunião com entidades de classe. No entanto, o governo informou que não apresentará nova proposta enquanto não cessarem as manifestações, que o governador Tarso Genro chamou de vandalismo. Contudo, ele assegurou que não ordenará o início de ações de repressão.

Fonte: Correio do Povo, ABAMF

domingo, 4 de setembro de 2011



“A impunidade favorece a indisciplina”

José Vicente da Silva Filho, consultor de segurança e coronel da reserva da PM de São Paulo

José Vicente da Silva Filho foi policial militar em São Paulo durante 30 anos, respondeu pelo planejamento da Secretaria de Segurança paulista de 1995 a 1997, ocupou o cargo de secretário Nacional de Segurança Pública em 2002 e é hoje um dos mais conceituados pesquisadores da área. Com a experiência acumulada ao longo de quase 50 anos, ele fala a ZH sobre os protestos:

Zero Hora – Os protestos que têm ocorrido no Estado, com interrupção de rodovias e queima de pneus, geram algum risco institucional para a Brigada Militar?

José Vicente da Silva – Certamente geram risco. A nossa experiência mostra que as cicatrizes de um evento desse tipo, se ele for mal cuidado, podem perdurar por 10 anos. Por isso, é preciso agir simultaneamente em duas frentes. Primeiro, a indisciplina não pode ser tolerada. Manifestação de policial militar não pode desandar para indisciplina, porque desmoraliza aquilo que rege a estrutura militar. A intolerância em relação a essas manifestações precisa ser externada com clareza. É necessário tomar medidas radicais, de demissão. A outra coisa a fazer é negociar apenas com entidades formais, nunca com lideranças espúrias.

ZH – Por que a indisciplina representada por esses protestos é grave?

Silva – A estrutura policial é a única de que o Estado dispõe para momentos de crise. A organização que você tem na mão jamais pode dizer não.

ZH – O senhor afirmou que as consequências de um conflito como o atual podem perdurar por uma década. Que consequências seriam essas?

Silva – São várias, especialmente a quebra de confiança e de liderança dentro da organização. O problema sério que costuma se verificar nessas quebras de hierarquia é que elas revelam a existência de uma falha na liderança natural dos oficiais. Em 2001, fui contratado para analisar a situação da PM da Bahia, que havia passado por greves, e percebi que havia um distanciamento gravíssimo dos oficiais em relação à tropa. A baixa hierarquia não estava convivendo com os oficiais e acabava seguindo lideranças espúrias, que pregavam a indisciplina. Verifiquei que isso ocorre em todo o país.

ZH – Esse distanciamento de que o senhor fala é no convívio diário ou tem a ver com as diferenças salariais entre oficiais e praças?

Silva – São as duas coisas. Na PM de São Paulo, à qual estou vinculado desde 1963, não se imagina um protesto como esses do Rio Grande do Sul. A PM paulista nunca aceitou um aumento salarial diferenciado para oficiais em relação aos praças, mesmo quando o governo ofereceu.

ZH – O problema do convívio diário se revela como?

Silva – O que mais me preocupou na Bahia foi o tratamento desrespeitoso dos oficiais com os praças. Havia punições exageradas, ofensas, xingamentos e ações disciplinares não previstas, como escalar o policial para serviço extra ou retirar a sua folga, que é um direito constitucional.

ZH – Isso vale só para a Bahia? As manifestações de PMs no Rio Grande do Sul revelam a existência desses problemas na liderança?


Silva – Quando ocorre uma crise como esta, com certeza tem um forte problema de liderança entre oficiais e praças. Certamente houve falha da liderança. E o principal equívoco de liderança são os atos de desrespeito. Quando uma liderança é reconhecida, manifestações como essas da Brigada Militar não acontecem. Quando há liderança, antes que um grupo decida fechar uma rodovia, antes que o problema aconteça, o oficial já detectou e neutralizou. Napoleão já dizia que você pode ser derrotado, mas não pode ser surpreendido.

ZH – Isso vale mesmo em um cenário no qual a Brigada Militar apresenta dificuldade de identificar os responsáveis pelos atos?

Silva – Se identifica bandido que está escondido, como é que não vai identificar policiais que fazem manifestação? As medidas contra essas manifestações têm de ser tomadas de imediato. Toda crise tem primeiro de ser contida, não pode ser ampliada. Se o protesto acontece uma segunda vez, é porque está havendo falha. Não podia ter passado da segunda manifestação.

ZH – Mas a Brigada Militar alega não ter identificado os manifestantes.

Silva – Essa alegação é inaceitável. Havendo uma manifestação dessas, tem de ir tropa de choque, tem de haver alguém em condições de filmar, tem de tomar medidas rigorosas. Em Londres, recentemente, as autoridades não tiveram o menor receio de prender milhares de pessoas que estavam fazendo manifestações criminosas. Nesse caso de protesto de policiais, há o descumprimento de ordens. É caso de demissão dos quadros da Brigada Militar. Isso deveria ter ocorrido de imediato. A impunidade favorece a indisciplina, que é intolerável em uma estrutura de combate ao crime.

CARLOS ETCHICHURY e ITAMAR MELO
Fonte: Zero Hora

http://sargentoricardo.blogspot.com

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