Na Inglaterra, a polícia pode contratar assessores não policiais para determinadas funções, e o fato do chefe Stephenson ter contratado justamente pessoas envolvidas diretamente com o escândalo causou muita suspeição.
No Brasil, a relação entre imprensa e polícia também chega a ter seus impasses éticos, uma vez que as polícias são donas de informações privilegiadas, de muito interesse à mídia. Não são raras as vezes em que “imagens exclusivas” ou “informações exclusivas” são divulgadas por jornais, revistas ou televisões, oriundas de operações ou investigações policiais que, em tese, não deveriam ser tornadas públicas – chegando a atrapalhar o desenrolar de processos judiciais.
Quando é possível passar a informação à imprensa, por que isto não é feito de modo oficializado, através de um meio público, em vez de se particularizar o fornecimento da notícia, tornando possível a mercantilização das informações por parte dos policiais? Como controlar esta negociação da informação? O que os veículos de imprensa dão em troca desta exclusividade? Claro que aqui não estamos nos referindo a denúncias de desmandos no interior das corporações ou situações similares, que certamente não serão divulgadas institucionalmente.
O setor de comunicações, nesta nossa era da informação, deve possuir prioridade estratégica, tanto no desenvolvimento de políticas proativas quanto na fiscalização de desmandos ético-legais. A polícia (e os policiais), como detentora de informações privilegiadíssimas, deve estar, mais que qualquer outra organização, atenta e afinada com este contexto.
QUEIMA DE ARQUIVO? Jornalista é morto após denúncia
Hoare foi o primeiro a revelar os grampos ilegais do “News of the World”
FOLHAPRESS - O primeiro repórter do tabloide “News of the World” a denunciar que o então editor Andy Coulson sabia das escutas ilegais realizadas por sua equipe foi encontrado morto, disse o jornal britânico “Guardian”. Sean Hoare trabalhou para o “The Sun” e para o “News of the World” sob a chefia de Coulson, que, mais tarde, foi escolhido como diretor de comunicação do premiê britânico, David Cameron.Hoare foi demitido dos jornais do grupo por problemas de drogas e alcoolismo. Ele foi encontrado morto em sua casa em Watford. A polícia de Hertfordshire não confirmou a identidade de Hoare, afirmando apenas que foi chamada às 10h40 de ontem para ajudar ao morador de uma casa na rua Langley, em Watford.
“O homem foi pronunciado morto na cena pouco depois”, disse a polícia, em comunicado, acrescentando que a morte está sendo tratada como “sem explicação”. A polícia ressaltou, contudo, que não há nada suspeito na cena. Hoare fez suas primeiras denúncias sobre o comportamento antiético do tabloide britânico em reportagem investigativa do jornal americano “New York Times”.
Ele disse ao jornal que Coulson sabia do esquema das escutas ilegais de telefones de políticos, celebridades e até funcionários da família real e ainda encorajava sua equipe a usar a prática para conseguir histórias exclusivas. Em uma entrevista posterior para a rede britânica BBC, ele disse que recebeu um pedido direto de Coulson para grampear telefones.
Quando trabalhou no “The Sun”, Hoare afirmou ter tocado fitas com as gravações para Coulson, então seu editor e amigo pessoal. Quando mudou para o agora extinto “News of the World”, Hoare continuou grampeando telefones e informando Coulson de suas ações. Na semana passada, ele voltou ao centro do escândalo ao dizer ao “NYT” que os repórteres do “News of the World” usavam tecnologia da polícia para localizar as pessoas através do sinal do celular, em troca de suborno aos oficiais.
Demissão
O escândalo das escutas ilegais derrubou mais da cúpula da Scotland Yard, a polícia britânica. Após a renúncia do chefe da Polícia Metropolitana, Paul Stephenson, no domingo, ontem foi a vez de John Yates, o número dois da organização. As denúncias são que os dois foram no mínimo coniventes nas investigações sobre a prática de repórteres do jornal de ouvir a caixa postal de telefones de membros da realeza, políticos, celebridades e também vítimas de crimes.
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