Saiba como agem os negociadores da polícia
Conhecer o perfil dos bandidos é parte fundamental da negociação
Por Adriana Caitano e Fernanda Nascimento
O caso das mulheres mantidas reféns em uma casa de Brasília na manhã desta terça-feira traz à memória cenas de situações semelhantes que terminaram em tragédia. Em 2008, a estudante Eloá Pimentel foi morta em São Paulo após cem horas de sequestro. O mesmo fim teve a professora Geisa Gonçalves, refém no ônibus 174, no Rio de Janeiro, em 2000.O desfecho de uma situação como essa depende muito do perfil dos bandidos e do método de ação dos policiais. Em Brasília, apesar dos momentos de tensão, não houve mortes e os criminosos se entregaram após cerca de seis horas de negociação - que, além dos policiais, contou com apoio de familiares dos homens.
Procedimentos - Quando um sequestro é detectado, a Polícia Militar aciona um gabinete de crise. O primeiro passo, segundo o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro Paulo Storani, é isolar a área, o que foi feito em Brasília. Os moradores das casas vizinhas foram retirados do local assim que os policiais chegaram.
Após o isolamento, os agentes envolvidos no gerenciamento de crise – neste caso, foram oitenta – são divididos entre o grupo de negociadores, que conversam diretamente com os sequestradores para saber a motivação do crime; o de inteligência, que analisa o histórico dos criminosos; e o de ações táticas, preparado para as ações policiais.
“Essa modalidade de roubo interrompido, em que não há exigências específicas, é a mais fácil e com probabilidade de terminar bem, pois não há motivação passional e eles não haviam planejado manter reféns. Só o fizeram porque a polícia chegou”, explica Paulo Storani.
Perfil - A psicóloga Júnia de Vilhena, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), que é especialista em violência, destaca que a análise do perfil dos sequestradores é essencial para o sucesso da operação. “É necessário saber a idade deles, se estão assustados ou agressivos e, principalmente, se estão drogados, pois isso faria com que eles perdessem qualquer elemento de racionalidade.”
Paulo Storani explica que o grupo de inteligência está preparado para buscar fatos sobre os envolvidos que possam influenciar na negociação. “É preciso observar a ficha criminal deles – extensa, no caso dos criminosos de Brasília. Se algum já cometeu um homicídio, poderá agir de forma brusca e violenta em algum momento”, diz. “A história também não deve ser prolongada demais para não dar a oportunidade de os criminosos quererem fama, o que acontece em muitos casos.”
As exigências feitas pelos bandidos devem ser, na medido do possível, atendidas. Os sequestradores de Brasília pediram a garantia de que teriam a integridade física preservada. “Isso pode ser resolvido com a presença de uma autoridade, como o secretário de segurança, que vai reforçar a garantia”, sugere Júnia. Para Storani lembra que tudo deve ser feito com cautela: “A vida é o foco principal. Em primeiro lugar a dos inocentes, em segundo a dos policiais e em terceiro a dos sequestradores”.
Outros casos
Abril de 2011Armado com um revólver, José Elígio entrou na casa da ex-mulher e a manteve refém por mais de 30 horas em Aracaju, em Sergipe. Ele foi à casa da ex e, depois de uma discussão, disparou contra sua perna, levando os vizinhos a chamar a polícia. Depois de um dia de negociações, a refém foi libertada. Na semana anterior, a jovem denunciou o marido por agressão e avisou sobre suas intenções de matá-la. O casal tinha se separado vinte dias atrás.
Fevereiro de 2010Depois de manter durante uma dia inteiro sua ex-mulher como refém em Tenente Portela, Rio Grande do Sul, Otávio Dornelles matou a ex e tentou cometer suicídio. A vítima já havia realizado diversas denúncias contra Dornelles e tinha uma medida contra o acusado, conforme prevê a lei Maria da Penha. Ela levou um tiro antes do ex-marido atirar contra a própria cabeça. Ele sobreviveu e foi levado ao hospital.
Janeiro de 2002Durante 27 horas, o auxiliar de cozinha João Sérgio dos Santos Pereira manteve nove reféns em um táxi-lotação em Porto Alegre. O sequestrador pedia 300 mil reais em troca dos passageiros, que foram sendo liberados em troca de alimentos e outros itens. Pereira se rendeu depois de receber um colete a prova de balas da polícia da capital gaúcha.
fonte: Veja
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