15 de Dezembro de 2010

Os noticiários dos últimos dias tem dado conta de um fenômeno chamado Wikileaks. “WikiLeaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em seu site, posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis”. Para além dos fatos já revelados pelos ativistas da Wikileaks, é fundamental compreender o surgimento deste fenômeno, que revela muito da época em que vivemos, nos trazendo questionamentos éticos e indagações acerca dos conceitos de comunicação e transparência do poder público. Em uma entrevista reveladora, o australiano Julian Assenge, fundador da Wikileaks, respondeu à seguinte pergunta: “como é possível que a Wikileaks tenha revelado mais segredos e descoberto mais furos nos últimos anos que toda a imprensa mundial junta?” Ele refaz a pergunta e diz: “Pois é… Como o resto da mídia de todo o mundo pode ser tão ruim que um grupinho de ativistas consegue revelar mais segredos do que o resto da imprensa junta?” É fantástica e revolucionária a existência de uma iniciativa que, não obstante suas limitações financeiras e logísticas, consegue realizar um trabalho que as megaestruturas da imprensa mundial sequer chegaram perto de concretizar. É inevitável formular uma teoria em que a mídia esteja comprometida com os ocupantes do poder público e as grandes organizações (e não é a mídia também formada por grandes organizações?). No mínimo, a inércia e a indolência própria de quem esteve por muitos anos tendo lucros com um trabalho relativamente estático acometeu a mídia, agora sacudida pelo recente fenômeno da internet. Claro: milhares de profissionais de imprensa e jornalistas se esforçam diariamente para noticiar e trazer a verdade à tona, mas os donos das estruturas e os patrões desses profissionais precisam explicar por que organizações bilionárias ficaram a reboque de iniciativas prosaicas como a Wikileaks. Por outro lado, a idéia que temos de democracia precisa ser refletida, pois se alguns procedimentos, como o sufrágio universal, nos fazem entender que vivemos democraticamente, temos uma intensa sonegação de informações do poder público, mesmo em sociedades tidas como exemplos de democracia. O que, exatamente, deve ser tido como “segredo de estado”? O que uma grande organização pode esconder da sociedade? Se estamos tratando de democracia, quais os selos que justificam que determinada informação não poderá nem deverá ser tornada pública? Não são poucas as vezes em que escândalos de corrupção são escondidos sob a alegação da integridade institucional. A internet, e o fenômeno das redes sociais, em que qualquer um pode expor publicamente pensamentos, opiniões e informações vem trazendo cotidianamente tensões do tipo, não sendo raro que notícias constrangedoras sejam publicadas, ao tempo em que grandes organizações e ocupantes de cargos políticos berram contra a possibilidade de transparência de suas ações e posturas. Acredito que o fenômeno Wikileaks é um ponto alto do que a internet vem proporcionando: uma metodologia dinâmica de propagação e transmissão de dados acessível a qualquer pessoa do mundo. Alguns blogueiros policiais, por exemplo, já passaram por situações similares, guardadas as proporções, à de Julian Assenge, perseguido por ter imposto transparência ao “sistema”. Como tenho dito, é melhor as organizações, públicas ou privadas, aderirem e abraçarem a nova era da comunicação, ou tomarão cada vez mais ridícula e constrangedora a postura hermética.
http://dinizk9.blogspot.com / http://sargentoricardo.blogspot.com/
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