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sexta-feira, 12 de março de 2010

PMs Gays estão revoltado contra a perseguição nos quartéis e contra a insinuação de que eles não são capazes de comandar porque os seus subordinados não obedece a policial homossexual

A presença de homossexuais no serviço militar é alvo de críticas não somente nas Forças Armadas, mas também entre os que lidam diretamente com a população nas ruas: os integrantes das polícias militares. PMs gays afirmam que sofrem com o preconceito e, em alguns casos, preferem esconder a orientação sexual.
Nesta quarta-feira (10), o Senado aprovou a indicação do general Raymundo Nonato Cerqueira Filho para o Superior Tribunal Militar (STM). Durante sabatina do Senado, no início de fevereiro, o general afirmou que a tropa não obedece a militar homossexual, o que gerou reações de diversas entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e de associações que defendem os direitos de homossexuais.
O 1º Tenente Ícaro Ceita, da Polícia Militar da Bahia, homossexual assumido desde a Academia de Polícia, conta que desde o início da carreira sofreu com o preconceito.
“Teve um professor uma vez que disse que homossexual não se deveria matar, mas se deveria colocar no pau de arara e dar uma surra. Peguei, me levantei, botei minha cadeira na frente da dele e disse: ‘muito me admira um professor usar uma sala de aula de ensino superior de segurança pública para fazer uma colocação infeliz dessa forma’. Aí quem não sabia ficou sabendo”, conta o tenente. Ícaro atualmente preside a entidade Adé Diversidade, que defende o direito dos homossexuais.
Oficial da PM colocado em posição de comando desde a formatura na Academia, Ícaro Ceita lamentou a declaração do general Cerqueira Filho que, após a sabatina, afirmou que não tinha intenção de ofender os homossexuais.
“A tropa sempre me respeitou muito. Essa colocação do general é totalmente equivocada. Se você tiver uma postura profissional, séria, a tropa respeita. Nunca fui oficial de ficar no ar condicionado. Sempre fui para a rua”, afirma Ceita.
Segundo o tenente, o preconceito vem com mais frequência entre os coronéis mais antigos, formados na época da ditadura, "e que infelizmente não acompanharam a evolução dos tempos”, afirma.
No momento, Ceita responde a dois processos de deserção. Segundo ele, as perseguições de um comandante o teriam levado a um quadro de depressão e ele se afastou do serviço amparado por atestados médicos.
“Ele me acusou de ter tido um caso com outro tenente da tropa, que também é homossexual, o que é uma grande mentira. Nós nunca tivemos nada, mas o comandante diz que eu fugi do serviço por causa disso. Eu não sou desertor. Eu não tenho nada com esse tenente. Eu sou vítima de uma perseguição”, afirma ele.
A Polícia Militar da Bahia informou que os processos a que Ceita responde não têm relação com a opção sexual, mas sim com sua conduta, que, segundo a PM, feriu o regimento interno. A assessoria de imprensa da corporação disse que não informaria qual foi a atitude porque o processo está em andamento. Ainda segundo a PM baiana, a corporação não age com preconceito nem discriminação em relação à opção sexual.

Anônimo
Outro PM, um soldado de Minas Gerais que prefere não se identificar, faz a mesma avaliação que o tenente baiano. “A profissão exige uma postura firme. Se você tem essa postura você será respeitado. Se o cara chegar a general, se ele chegar a uma posição de comando, a tropa respeita, independente da orientação sexual”, afirma.
“Uns colegas de batalhão, que não sabem que eu sou homossexual, estavam comentando de um tenente, de outro batalhão, que eles suspeitam que seja. Daí falaram: ‘ele é veado, mas nem parece, é sério, é competente’. É uma frase preconceituosa, mas mostra que mesmo quem fala uma coisa dessas sabe separar as coisas. Sabe que o trabalho é uma coisa e a vida pessoal do cara é outra”, conta o soldado.
Mesmo assim, o mineiro diz que não pretende assumir sua opção publicamente no batalhão. “É comprar uma briga sozinho. Não [se] tem apoio”, afirma. Sobre as piadinhas que os colegas eventualmente fazem, ele diz não ligar. “Não me importo com essas coisas. Eu sou quem eu sou.”, conta ele, que disse já ter tido dois relacionamentos amorosos com colegas de farda.
Um deles, com um colega soldado, chegou a durar cinco anos. O outro, mais curto, foi com um major. “Foram relacionamentos normais, como acontece com qualquer pessoa. É óbvio que nós nunca fizemos nada no batalhão. É como qualquer casal que trabalha junto, você não vai ficar se beijando na hora do serviço. A gente saía na rua, ia em festas, vida normal”, diz ele.
O soldado mineiro afirma que não tem medo de ser descoberto. “Sou na minha, sou sério. Não dou abertura para ninguém se meter na minha vida. Mesmo que me vissem com meu namorado na rua, ninguém ia perguntar nada”.
Fonte - globo

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