Policiais militares e civis se aliam e acenam com greve geral no RS
Duas
corporações que trabalham em conjunto pelo mesmo serviço à população,
mas que convivem com uma certa rivalidade interna na estrutura da
Segurança Pública, se uniram por interesses em comum em torno de suas
representações sindicais. Escudadas no clamor social por mais segurança e
motivadas, principalmente, pelos cortes promovidos pelo governo em nome
da crise financeira,
as entidades que representam a Brigada Militar e a Polícia Civil se
aproximaram e passaram a escancarar um clima de insatisfação geral
contra o discurso adotado pelo Palácio Piratini.
O corte de horas extras, parcelamento de salários e a falta de investimentos somados
a carências históricas na área causam grande preocupação entre
sindicatos e associações. Internamente, os servidores entendem que as
medidas tomadas pelo governador José Ivo Sartori tiraram a “motivação”
de policiais militares e civis. A resistência ao Executivo aumenta a
cada dia, pois as ações do governo – tidas como impopulares pelas
categorias – provocaram constrangimento em ambas as corporações.
Por
enquanto, ações mais contundentes ainda estão sendo estudadas e não há
consenso sobre paralisação ou possibilidade de greve geral na Segurança,
como ocorreu em 1997, no governo de Antônio Britto, e também em 2004,
com Germano Rigotto. Porém, pelo menos duas assembleias de categorias já
estão marcadas, e há fortes indícios de que o assunto entrará na pauta
em breve, podendo atingir mais um governo do PMDB.
Entre
as entidades que assumem publicamente o indicativo de greve está a
Ugeirm-Sindicato, que representa os escrivães, inspetores e
investigadores de polícia do Rio Grande do Sul. Recentemente, no final
de abril, a categoria promoveu uma paralisação de 24 horas.
—
A onda de violência nas ruas vem crescendo muito e atingiu níveis
alarmantes, o que não tínhamos visto até então. Mesmo com o clamor
popular, o governo não dá sinais positivos para a categoria — diz o
vice-presidente da Ugeirm-Sindicato, Fábio Castro.
Aparício
Santellano, presidente da Associação dos Sargentos, Subtenentes e
Tenentes da Brigada Militar (ASSTBM), comemora a aproximação com os
servidores da Polícia Civil e afirma que fará viagens ao interior do Estado para buscar mais apoio ao movimento.
—
Nunca vi uma mobilização tão forte. O governo criou uma falsa
expectativa e não cumpriu nada. Vamos fazer contato com unidades do
interior para obter um apoio maciço, sabendo que logo ali na frente pode
ter uma greve geral. A Brigada está fechada com a Polícia Civil.
Amparado
em uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a partir de uma
ação que teve início em 2007, ainda no governo Yeda Crusius, o Sindicato
dos Servidores da Polícia Civil (Sinpol-RS) cobra o cumprimento da
sentença que proíbe atraso ou parcelamento dos salários do
funcionalismo.
— Há
risco de medidas mais fortes contra o governo sim. O clima é de
insatisfação geral. Tem muita gente indignada com o que está acontecendo
— relata o segundo vice-presidente do Sinpol-RS, Rogério Bilhalva.
Com
o mesmo tom nas críticas ao governo, mas um pouco mais cautelosa no
assunto greve, a Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do
Sul (ASDEP-RS) entende que é preciso calma para tratar do tema. Por
outro lado, ingressou com um mandado de segurança na Justiça para tentar
garantir uma multa diária de R$ 100 mil ao governador Sartori caso ele
descumpra a ordem judicial que determina o pagamento dos salários em dia. Nesta quinta-feira, o pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça.
—
Já tomamos várias atitudes, inclusive judiciais, proibindo algumas
medidas. Não se pode deixar de pagar o salário dos servidores. Mas
estamos trabalhando com calma, temos uma postura séria, transparente e
leal aos nossos princípios – ameniza o delegado Wilson Müller Rodrigues,
presidente da associação.
O representante da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (ASOFBM), por sua vez, considera que o momento é delicado e grave.
—
É uma união praticamente inédita das entidades da segurança. Estamos
passando por um momento muito grave. A Segurança Pública é prioridade. O
governo não tem o direito de mexer na motivação da polícia. Atos
ilegais devem ser combatidos em vários eixos — avalia o coronel Marcelo
Gomes Frota.
—
Nós estamos algemados, não temos mais liberdade. A sociedade pede e não
conseguimos atender. Cortaram horas extras, diárias, falta efetivo nas
ruas, dinheiro para viagens. Existem cidades do interior que não têm um brigadiano sequer.
O governo massacra os brigadianos — ressalta o presidente da Associação
de Cabos e Soldados da Brigada Militar (Abamf), Leonel Lucas.
Duas
categorias já convocaram assembleia para os próximos dias: a Asdep-RS
se reúne nem 29 de maio, enquanto a Ugeirm-Sindicato promoverá encontro
no dia 8 de junho.
Estado tem limitação financeira, argumentam secretários
Diante das críticas das categorias, o secretário estadual de
Segurança Pública (SSP), Wantuir Jacini, entende que é “compreensível
que haja insegurança com relação ao futuro”, em função da crise
financeira do Estado e do País.
—
É preciso observar que não só o Estado, mas o País como um todo
atravessa uma forte crise econômica. É compreensível que, em um contexto
como esse, haja insegurança com relação ao futuro próximo e que essa
incerteza atinja os servidores públicos — destacou.
Ainda
conforme Jacini, a possibilidade de greve não assusta o governo, porque
o diálogo com a categoria está aberto e o Piratini vem atendendo às
reivindicações, como a manutenção dos salários de abril.
—
Atendemos e atenderemos a todos os pedidos de audiência solicitados
pelas entidades. Por um dever constitucional, faremos tudo ao nosso
alcance para não chegarmos a este ponto (greve), até porque confiamos
que as medidas que estão sendo adotadas vão ao encontro dos interesses
dos servidores, e confiamos na responsabilidade destes para com a
sociedade gaúcha — salientou o secretário.
Já
o titular da Casa Civil, secretário Márcio Biolchi, tratou de amenizar o
clima de insatisfação que, segundo ele, é compartilhado pelo governo
estadual. Porém, reforçou que o Estado enfrenta uma profunda crise
financeira.
—
A preocupação das entidades é tão intensa quanto a preocupação do
governo. Temos dedicado todos os esforços para manter as atividades dos
servidores. Reconhecemos a parcela do mês de maio e entregamos já neste
ano cerca de 250 viaturas. Sabemos da legitimidade dos seus pleitos. Agora,
esta não é uma opção do governo (de parcelar salários). O Estado tem
limitação financeira. Cobrar do governo o que ele não tem condições de
entregar não vai resolver nosso problema.
*Zero Hora
Fonte: Zero Hora
http://zh.clicrbs.com.br/rs/
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