Policiais da Força Nacional relatam ‘improviso’ para cuidar de 20 mil índios
Thalyta Andrade
Força Nacional de Segurança Pública está presente nas aldeias Tey' Kue, Bororó e Jaguapiru (Foto: Marcello Casal Jr/EBC)
Força Nacional de Segurança Pública está presente nas aldeias Tey' Kue, Bororó e Jaguapiru (Foto: Marcello Casal Jr/EBC)
Thalyta Andrade
Desde
outubro de 2011 a Força Nacional de Segurança Pública está presente em
Mato Grosso do Sul, sendo responsável por garantir a ordem nas aldeias
Jaguapiru e Bororó, em Dourados e também na aldeia Tey’kue, no município
de Caarapó, ambas na região Sul do Estado.
Consideradas
áreas de tutela federal, as aldeias indígenas convivem com os problemas
de segurança que dia pós dia elevam os índices de criminalidade em meio
a comunidade.
Somente
na Bororó e Jaguapiru, são 15 mil indígenas que diariamente têm de
lidar com uma rotina de insegurança e violência que é fruto,
principalmente, do consumo excessivo de álcool e drogas e da ausência de
políticas públicas de combate.
Estado
e a União negam, mas não estão presentes como deveriam dentro dessas
comunidades, que fazem parte do país assim como todo o restante da
população. Essa é a conclusão de lideranças indígenas, que acusam
insuficiência no trabalho da Força Nacional e ausência dos governos no
combate a violação de direitos.
Para
se ter uma ideia de como a segurança nas aldeias é negligenciada,
atualmente são oito policiais da Força que trabalham no zelo pela
integridade de mais de 20 mil indígenas, considerando a população da
Jaguapiru (oito mil), Bororó (sete mil) e Tey’Kue (seis mil). Esse grupo
se reveza em plantões de 24h/48h, com um dia de sobreaviso, quatro de
prontidão e um de serviço, circulando em duas viaturas.
O Dourados News conversou
com alguns desses policiais, que relataram a realidade de dificuldade
em ter uma área de responsabilidade grande frente a um efetivo
verdadeiramente pequeno.
“É
complicado. É muita gente, um terreno com muitas dificuldades de
locomoção e uma demanda grande principalmente por conflitos que
começaram por causa de bebida e drogas, que são os motivos que
observamos nas ocorrências aqui. Geralmente são conflitos familiares no
âmbito doméstico, com violência elevada”, disse um policial, que
preferiu não ser identificado.
A
Força Nacional é composta por policiais militares de vários Estados. Um
militar que atuou numa grande capital do país, disse que no comparativo,
o trabalho nas aldeias é menos complicado. O que o torna “difícil” é
realmente o efetivo insuficiente.
“Por
várias vezes estamos lá em Caarapó [localizado a uma distância de 50
quilômetros de Dourados] e há uma ocorrência em Dourados tão grave
quanto. A liderança liga, mas até chegarmos lá a situação pode ter saído
do controle e ocasionado em algo mais grave. Eu lidava com tráfico em
uma cidade onde tinha dezenas de homicídios por dia. Aqui a situação é
menos pior, mas o que nos complica é que somos poucos para lidar com
muitos conflitos. Nos desdobramos como podemos”, relatou.
O
curioso é que, exposto aos olhos de quem puder ver, mais de 10 viaturas
da Força Nacional encontram-se estacionadas na sede da Funai (Fundação
Nacional do Índio) em Dourados. Diante disso, a pergunta é: porque os
veículos que poderiam reforçar o patrulhamento nas aldeias não circulam?
“Trabalhamos
com duas viaturas que, por conta do terreno bastante prejudicado da
Reserva, acabam arriando por várias vezes. A viatura que circula hoje
não será a que vai estar na rua amanhã”, relatou um policial. No
entanto, questionado se o rodízio precisava ter mais de 10 viaturas à
disposição, o policial admitiu que não. “Realmente poderia ter mais
viatura circulando e isso ia ajudar muito”.
Procurado pelo Dourados News,
o coordenador regional da Funai em Dourados, Vander Aparecido
Nishijima, se limitou a dizer que a Força não tem qualquer relação com a
instituição.
“Não
posso falar nada a respeito do trabalho desses policiais porque não são
subordinados a Funai. Apenas cedemos o espaço para que as viaturas
fiquem aqui”, declarou Nishijima, que sequer quis confirmar a quantidade
de viaturas que hoje estão ‘guardadas’ na sede da Funai.
A
Força Nacional veio para Mato Grosso do Sul em 2011 inicialmente em
apoio a ações desenvolvidas pela Polícia Federal nas aldeias e,
posteriormente, por força de decisão judicial que determinou a
permanência do efetivo no Estado para garantia da ordem e segurança
dentro das aldeias. O grupo de policiais que hoje atua nessas três
aldeias da região Sul do Estado permanece por aqui por tempo
indeterminado.
Fonte: Douradosnews
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