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terça-feira, 2 de julho de 2013

Sobre conquistas e esperanças

coluna de acessibilidade

Por Manuela Modesto
Há quinze dias quando escrevi sobre os movimentos sociais que abalaram nosso país ainda não tinha a dimensão de toda a mudança que o povo poderia inspirar na nossa sociedade.

Toda essa movimentação me surpreendeu positivamente e ,sinceramente, encantou-me ver o brilho nos olhos de tantos jovens sedentos por justiça social.

Lembrei-me das histórias que meu pai contava sobre a sua luta no movimento estudantil contra a ditadura militar que subtraiu nosso país em tenebrosas transações.

Mais tarde, ainda menina, usei a camisa das Diretas Já e, apesar de não entender direito,  orgulhava-me participar de uma grande mudança no país.

Um pouco mais tarde, já adolescente, pintei a cara para derrubar um presidente, que acreditava que a nossa pátria mãe dormiria distraída, eternamente.

Um pouquinho depois, comecei a lutar para que o povo chegasse ao poder democraticamente. Foram muitas reuniões, panfletagens na Av. Conde da Boa Vista e muito tempo dedicado a um ideal, que era o sonho de todos aqueles jovens que se reuniam nas ruas do Recife. Naquela época esperávamos conquistar um governo justo, democrático e com poder emanado do povo e para o povo.

Conseguimos depois de muita batalha eleger um governo popular... 2002 foi um dos anos mais emocionantes da minha vida, eu estava na Av. Paulista no discurso da vitória do presidente eleito, presenciei milhares de pessoas chorando e se abraçando, foi uma emoção a flor da pele.

Ninguém imagina qual o meu espanto e decepção ao descobrir que o governo popular que elegemos sofria das mesmas mazelas dos governos passados... Afinal tínhamos elegido a mudança, o novo, a revolução democrática...

Com o tempo e a maturidade percebi que para esse governo chegar ao poder e se manter no poder teve que realizar uma série de acordos políticos, na verdade eram os mesmos os mesmos enlaces que existiam há 500 anos, mas que já tardavam em ser rompidos.

Mas, eis que chegou a hora!

O povo após uma sucessão de golpes a credibilidade, a esperança e a fé, retomou o poder nas mãos, recuperou o lugar que sempre lhe coube, ou seja, o centro das tomadas de decisão do país.

Creio que essa luta é legítima e simples. Queremos o básico, o comum, o óbvio, o natural, o que uma leitura objetiva da constituição classifica como direito do cidadão. Queremos apenas saúde, educação, segurança, mobilidade, saneamento básico! Não queremos nada extraordinário, queremos apenas o necessário a vida cotidiana de todos os mortais, mas que garantam dignidade e cidadania.

E confesso que não posso conter a alegria em finalmente esse momento acontecer, ainda não sabemos aonde esse turbilhão da história vai chegar, mas tenho a esperança que só pode resultar em algo muito favorável ao nosso país, uma verdadeira transformação política e social.

Não é para menos que o povo clama que o gigante acordou, afinal no histórico dia 20/06/13 foram mais de 1 milhão de pessoas nas ruas nas principais cidades brasileiras. Cheguei a enxergar a tomada da bastilha na Revolução Francesa nos atos protagonizados naquele dia...

Aliás, como diria Ulysses Guimarães " A única coisa que mete medo em político é o POVO nas ruas".

E assim, não por acaso, as conquistas aconteceram e se somaram, conseguimos a redução das tarifas do transporte público, conseguimos derrubar a PEC 37 com quase unanimidade, conseguimos a aprovação da corrupção como crime hediondo, tivemos o primeiro parlamentar preso em exercício por corrupção, conseguimos que os royalties do petróleo sejam destinados para saúde e educação e conseguimos, sobretudo, o compromisso do governo e da oposição por reforma política.

Enfim conseguimos mexer com os três poderes...

Tudo isso nos últimos 15 dias. 15 dias que mudaram o Brasil!

Toda essa mudança nos inspira a internamente protagonizarmos uma revolução moral nos padrões estabelecidos como normais, uma mudança de comportamento compatível com a revolução de valores morais exigidas nas ruas.

Penso que seja o momento para não mais transigirmos com as pequenas e grandes infrações, com as desonestidades corriqueiras e com as não corriqueiras, com o desrespeito ao ser humano, com o querer levar aquela pequena vantagem em todos os momentos, em querer ocupar "rapidinho" a vaga destinada aos idosos e as pessoas com deficiência, a usar privilégios que não lhe são direitos, a furar fila, a pagar propina, a dar um “agradinho” ao fiscal ou ao guarda de trânsito, e esquecer o que de mais importante podemos herdar e perpetuar: a ética.

Por isso, compartilho dos sentimentos do Frei Leonardo Boff e nutro a convicção de que nada será como antes e que a partir de agora se poderá refundar o Brasil a partir de onde ele deveria ter começado, ou seja, a partir do POVO.
Postado por Jamildo Melo

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