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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

opinião

Um pouco de respeito, por favor

Por Vinícius Sobreira, repórter do Blog*
São mais de onze horas e acabo de chegar em casa. Saí cedo para o jornal e, após meu expediente, segui para os dois turnos de estudo, na Cidade Universitária e de volta ao centro. Todo o cansativo trajeto faço de ônibus, transporte defendido como principal modal por gestores e educadores - apesar de poucos deles obedecerem o que pregam. Pois bem, já havia desperdiçado cerca de três horas do meu dia dentro do transporte público, o que aumenta o cansaço do dia a dia, mas nada além do desrespeito cotidiano.

Ao fim do dia, gostaria de chegar em casa e, desgastado física e mentalmente, jantar, tomar um banho e dormir. Mas infelizmente não pude fazê-lo com tranquilidade. É que no caminho de volta, após largar da aula às 22h, fiquei 50 minutos esperando um ônibus - um detalhe é que eu tinha duas opções naquele ponto da Estrada do Arraial, em Casa Amarela. Ao meu lado, estavam mais cinco pessoas aguardando os mesmos benditos ônibus. Entre eles um casal, voltando de uma jornada dupla ou tripla de trabalho, que havia chegado cerca de 30 minutos antes de mim (!!!). "Se tivesse ido andando já estaria dormindo em casa", reclamava o senhor, com alguns quilos na bolsa de costas.

Aquele sistema de SMS anunciado pelo Consórcio Grande Recife no início do ano foi tirado do ar na primeira semana de uso e, ao que parece, segue em manutenção até hoje. Dependíamos, todos na parada de ônibus, de informações incertas. E foi numa desta que ouvimos que os ônibus não estavam entrando no Vasco da Gama, bairro em que moro. Não sei se aquilo era uma justificativa para que as duas linhas, Vasco da Gama/Afogados e Vasco da Gama/Derby (ambas da empresa Pedrosa), mudassem radicalmente seus trajetos. Mas já não fazia sentido seguir - talvez por mais 50 minutos - esperando um ônibus para não seguir com ele até o destino de fato. Então fui a pé.

Mais trinta minutos andando, carregando peso, para chegar em casa depois de um longo dia. Já me sinto mal todas as manhãs - que bela maneira de começar o dia! - com o tratamento que recebo do poder público. Os ônibus não têm hora certa para passar e constantemente demoram e vêm lotados, obrigando metade dos clientes a seguirem viagem em pé. No fim do dia o mínimo que esperamos é que os serviços públicos não desrespeitem ainda mais aqueles que são sua razão de existir - e que indiretamente, através daqueles que elegemos, concederam-lhe o direito de prestar tal serviço. Que ao menos honrem a falta de qualidade do serviço, não piorando o que já é ruim.

Mais que o cansaço do dia ou que o peso da espera (de pé, já que aqueles pontos de ônibus bonitos com cadeiras nunca existiram em bairros menos favorecidos), o que mais revolta é o sentimento de completo desprezo por parte da gestão pública. É revoltante ver no rosto do trabalhador a expressão de impotência, deixando o sentimento de humilhação transpassar. Não tão jovem quanto eu, ele ficou na parada - talvez ainda esteja lá - esperando o serviço público chegar para que ele tire alguma satisfação, após mais de 1h30 de espera (e, como você pode ver AQUI, a Festa do Morro, que acontece a poucos metros de lá, não influencia no intinerário dos ônibus citados).

Isso infelizmente faz parte do dia a dia dos moradores deste bairro aqui na Zona Norte - que não é um bairro pequeno!, visto que temos mais de 29 mil habitantes, de acordo com dados da PCR. A ausência do poder público por estas bandas é injustificável - e, por que não dizer, burra, visto que fazer um "feijão com arroz" para estas 30 mil pessoas desassistias deve garantir-lhe alguma força eleitoral mais tarde.

Sempre me impressiono quando preciso pegar o ônibus Parnamirim/Macaxeira, que no geral só passa apenas em bairros "mais favorecidos". Raramente os ônibus estão lotados e é ainda mais raro o tempo de espera se estender por mais que 10 minutos. Classe média precisa ser bem atendida, já que é mais difícil de manipular.

Enquanto isso, leio que "A cidade avança cuidando das pessoas" e fico me questionando... Fazemos parte da "cidade"? Seja na lentidão do trânsito ou na qualidade de vida, não sentimos o "avanço". E será que o poder público nos considera "pessoas"? Porque carecemos de cuidados, de atenção e de um mínimo de respeito humano. "O Futuro a gente faz agora". Bem, o desprezo é de quem parece não querer que lutemos pelo nosso futuro.

Vejo por aqui, entre jovens e nem tão jovens, bastante garra para enfrentar as dificuldades que a vida já lhes impôs. Estudar mais do que os pais puderam ter, conquistar mais do que o entorno pode oferecer. Mas é desestimulante nadar enquanto a maré puxa você para trás. Seria pedir muito das nossas excelências, vereadores e prefeitos de Recife e Olinda, além do governador e dos deputados estaduais, todos participantes da implementação do Grande Recife, seria muito pedir, repito, que cobrem deste consórcio aprovado por vocês um serviço que faça o cidadão se sentir minimamente respeitado?

*O artigo acima não reflete necessariamente a opinião do Blog.
Postado por Vinícius Sobreira / http://sargentoricardo.blogspot.com.br/

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